Foi 1 ano e meio de aulas aos sábados recheados de pontualidade, vontade e senso crítico.
Percebia certo desespero em tocar bem, ter feeling, ser veloz e tirar bons timbres mesmo com uma guitarra daquelas bem baratas compradas em promoções.
A aula dele foi um divisor de águas na minha maneira de ensinar, posto que a sede de tocar era tanta que comecei também a praticar mais e a me cobrar mais.
Já no fim do nosso contato algumas semanas antes da última aula ele disse:
‘Teacher !Tenho algo pra lhe contar.’ Fui convidado por um daqueles caras que me humilhara.
Era um ensaio e dois dos outros caras da turma estavam lá.
Esperei dele a conclusão heróica: ‘Toquei muito e humilhei todos eles!’
Mas o que ouvi me ensinou que a música jamais será uma competição. É a compreensão do próprio ser e de seu contexto.
Então disse ele: ‘Acho que toquei bem melhor e consegui entrar na banda’.
Olhei-o com os olhos cheios de lágrimas tentando disfarçar a rasteira que levei abraçando-o disse: Aprendi muito com você velho... Você me instigou a tocar novamente como há muito eu não tocava.
Semanas depois arrumou um emprego na área de manutenção computadores e ficou sem tempo, pois estudava à noite.
Não tem dinheiro que pague essa lição...